Coluna InterGoiás - Traçado Gringo - A influência de outras colônias em solo goiano



O que se costuma ignorar nos tempos atuais é o fato de que a formação econômica e estrutural do território goiano se desenvolveu sob a ótica de “forasteiros”, incumbidos de levar a cabo um projeto colonizador metropolitano europeu. De certa forma o planalto central, embora distante do litoral, fazia parte da complexa teia do império marítimo lusitano. Logo, os servidores da Coroa Portuguesa nestes sertões precisavam seguir a metodologia político-administrativa de Lisboa, assim como o era feito na África, Ásia ou Oceania.

Aqui se vislumbra a passagem de gestores, durante o século XVIII, que procuraram reproduzir experiências de outras colônias no solo goiano, seja na esfera pública ou mesmo privada. Um modus operandi que chegou a se estender aos costumes religiosos também, como se sabe da origem da eternizada Procissão do Fogaréu, trazida pelo padre Perestello, que almejou implantar em Villa Boa este ritual que, inclusive, é mais comum em terras espanholas que no universo da fé portuguesa.

Não se pode esquecer que o próprio Chafariz de Cauda, no centro da velha capital vilaboense, foi erigido a partir de um projeto do famoso governador Barão de Mossâmedes, cujo título de nobreza foi emprestado ao nome de um município vizinho, e que o mesmo gestor teria vínculos de serviços prestados à Coroa em Angola, do outro lado do Atlântico; e, diga-se de passagem, a experiência deste governante intercontinental já lhe alertava quanto aos desafios de abastecimento de água da povoação, possivelmente a partir de seu contato com o semiárido das savanas africanas. Existem interpretações de que o codinome “Mossâmedes” seria de origem africana, talvez até mesmo de cunho islâmico daquelas regiões subsaarianas.

E se ressalte que muitos angolanos tenham sido trasladados diretamente de seu território original, atravessando grandes imensidões não só sobre o Atlântico como que, quase de igual extensão, pela vastidão do solo baiano, através da Estrada Geral dos Sertões, para que pudessem contribuir, na condição de escravos, com a nascente civilização goiana seja com suas técnicas de mineração, seja com sua bagagem culinária, artesanal, linguística, religiosa e étnica, como um todo.

O prédio do Museu das Bandeiras, antiga Casa de Câmara e Cadeia, seguia o protocolo arquitetônico colonial dos paços administrativos portugueses e, é digno de nota, que após concluído seus projetistas chegaram a receber congratulações diretamente da Corte, na Europa, como referência de excelência em sua estrutura que se destacava dos demais edifícios para o mesmo fim quando comparado com outros empreendimentos lusitanos do além-mar.

Realmente não dá para passar desapercebido de que, em sua formatação original, a Cidade de Goiás parecia receber algum tipo de atenção, mesmo que velada, das autoridades europeias. Seria pensar de maneira limitada que todo este investimento inicial se concentrasse somente na questão da mineração de ouro, uma vez que esta capitania não fornecia tanto metal precioso se comparada com a vizinha mineira. 

Sob um olhar mais atento de quem pesquisar as plantas e esboços do traçado urbano deste núcleo de povoação, desenhados entre os séculos XVIII e XIX, se poderá atentar que possivelmente havia um propósito mais ousado, a médio e longo prazo, para o Vale do Rio Vermelho.

Tal questionamento talvez tenha uma dica oculta num certo projeto, durante o reinado de D. João VI ainda em 1808, de se cogitar uma mudança da capital das terras brasileiras da linha litorânea carioca para a segurança das terras goianas: o embrião do Distrito Federal.

Parece que existe mais potencial nesta parte do cerrado brasileiro que os próprios moradores possam entender. Terra Incógnita.

Por José Maria
Foto: José Gomes Neto

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