Coluna InterGoiás - Os primórdios do estado goiano , entre terras e territórios diversos



A civilização goiana sempre foi rotulada como uma sociedade provinciana por excelência, como que condenada ao isolacionismo de sua condição geográfica natural distanciada dos litorais, tanto da costa do Pacífico quanto da orla do Atlântico. Localizada próxima ao centro geodésico do continente sul americano (ficando este ponto exato em território mato-grossense) encontra-se no coração da vastidão brasileira, caracterizando-se assim como uma região mediterrânica, no verdadeiro sentido da palavra: “entre terras e territórios diversos”.

Tal situação teria contribuído para o desenvolvimento de um estilo de vida do gentio local com fortes traços arredios ao estrangeiro; ou pelo menos este seria um comportamento a se esperar. Mas, a História mostra que muitos viajantes ao longo do tempo, por todos os continentes, se surpreendiam com certa diversidade cultural encontrada em localidades tidas como distantes da vida cosmopolita das grandes cidades portuárias, como foi o caso dos movimentados centros comerciais de: Kabul, na Rota da Seda pelo Afeganistão no meio da Ásia; de Tombuctu, no Mali que conectava o norte e o sul do interior da África; ou mesmo Genebra, na acidentada e gelada topografia dos Alpes Suíços e sua contribuição na interseção financeira entre a Europa meridional e setentrional. A partir desta percepção, ficaria então mais fácil de se superar certas visões estereotipadas que tentam pintar uma imagem dos habitantes do interior das imensidões continentais como que inferiores no trato das relações humanas, quando comparados aos ‘povos do mar’.

Inclusive existem teorias de que os nativos originais do cerrado goiano, muito antes da chegada dos europeus, poderiam ter experimentado incursões de grupos indígenas de outras partes do Brasil, e mesmo de terras além, como se acredita numa suposta ‘Rota Inca’ que teria percorrido algumas regiões tupiniquins, passando pelo Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e até pela Bahia. As entradas efetuadas pelos bandeirantes, sob o auxílio de guias indígenas, seriam nada mais que antigas trilhas restantes deste misterioso percurso que poderia ter nascido nos Andes.

Sem contar as levas de tribos inteiras que migravam, de forma forçada, das áreas litorâneas de mata atlântica para as terras altas do cerrado, na tentativa de escapar da onda predatória colonizadora dos lusitanos. Muitas vezes o choque entre grupos étnicos indígenas distintos, compostos entre locais e chegantes, era inevitável.

Por fim, a própria chegada oficial dos bandeirantes liderados pelo mítico Anhanguera, no início do século XVIII, desencadeou um incidente diplomático, por sinal intermediado pelo Papa da ocasião, que teve como desfecho algumas décadas mais tarde na negociação entre Portugal e Espanha pela criação do Tratado de Madri que definiria um formato mais extenso de nosso território a oeste do Tratado de Tordesilhas, haja vista que este último havia sido desrespeitado pela fundação do Arraial de Sant’Anna, mais tarde Villa Boa de Goyaz, primeira povoação portuguesa em solo que, por direito, pertenceria à Coroa Espanhola; em suma, o símbolo máximo de que o distante Vale do Araguaia passava a ser objeto de disputa por duas potências marítimas da época, inserindo-se assim, no começo de sua história oficial, no complexo cenário das relações internacionais.

De fato, Goiás é uma joia que não se pode subestimar. Melhor procurar entender, e compreender, para se poder empreender. Terra Incógnita.

Foto: curtamais
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